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Nos últimos dias, a internet foi encharcada com o noticiário sobre conteúdos impróprios para crianças nos vídeos do youtube kids. Principalmente, sobre a chamada momo que é uma figura grotesca e macabra que viralizou por meio do WhatsApp e do jogo Minecraft.
A momo surgiu através do artista japonês Keisuke Aiso de 46 anos. Sua escultura de silicone foi utilizada em uma galeria de artes em Tóquio em 2016. Contudo, anonimamente, algumas pessoas aproveitaram da imagem para incitar o mal e a desordem, abrindo contas no WhatsApp para enviar mensagens perturbadoras que insinuava posse de informações pessoais e desafios suicidas. Em março deste ano, 2019, a figura volta a circular por meio de vídeos interrompidos no youtube kids.
Se antes a criança acessava um link para entrar em contato com a “momo”, agora ela recebe o conteúdo passivamente inseridos em vídeos de seu interesse como o slime, baby shark, entre outros.
Embora a plataforma tenha sido criada para gerar mais conforto aos pais e mais segurança às crianças, esta tecnologia ainda está longe de proporcionar isso sem a presença ativa dos adultos.
Ademais, é importante salientar a gravidade que a negligência tanto do tempo quanto da relação com o conteúdo que a criança é exposta pode causar na existência destes pequenos em formação. Estes danos vão além dos crescentes casos de miopia, mas comprometimento da saúde mental do indivíduo. Deixar de dar a devida importância a psique e suas complicações na vida do sujeito é oferecer ao adulto de amanhã sérios transtornos psicológicos tal como a depressão, bipolaridade, ansiedade, demência, déficit de atenção, hiperatividade, etc..
Apesar de não ter pesquisas ainda que trazem a correlação entre a negligência e a psicopatia, desconfio que este transtorno psicótico tem dentre suas causas também a ausência de ressignificação dos impulsos de violência e apatia na infância.
É necessário refletir também o porquê de, nos últimos anos, ocorrerem tantos casos semelhantes, como houve a Baleia Azul. Estas situações nos causam não apenas indignação, mas reflexões. Afinal, se queremos viver uma vida autônoma é necessário não deixar estes assuntos de lado, mas questioná-los.
Ouso dizer que é fruto da nossa doença social, isto é, ausência de uma educação que promova a essência de cada ser, a ausência de relações construídas com bases sólidas, ausência do olhar com o coração e o ouvir com a alma o outro a nossa frente. Falta. Falta porque a maldade é ausência do bem e não o inverso. Estamos doentes porque nos falta viver mais o mundo real, que só é possível ser vivida se há eminentemente presença.
Atualmente, vive-se a Era em que dois irmãos conversam através de um aplicativo e a distância física que os separa é de uma parede. Em tempos que, mesmo a sociedade brasileira de pediatria alertando que até os dois anos deve ser evitado, desencorajado e até proibida a exposição passiva em frente às telas digitais, é mais fácil ofertar um desenho para a criança ficar quieta e “obediente”.
Outro ponto a ser considerado, para agregar nas reflexões, é que todas estas pessoas que promoveram estas aberrações foram crianças um dia. Mesmo elas possuindo, com toda certeza, algum tipo de transtorno psicológico, houve uma época que elas foram dependentes de algum adulto. E a pergunta que nos passa em mente é: quais experiências permearam a vida delas quando criança? Quais percepções deixaram de existir em suas vidas para um eficaz direcionamento na saúde e bem-estar?
O objetivo não é defendê-las, ao contrário, é mostrar a importância do olhar do adulto para a criança, pois é essa sensibilidade que fará toda a diferença no desenvolvimento integral, saudável do ser humano. Essa percepção sensível das necessidades reais do pequenino se faz através do vínculo, da presença, da convivência.
É fundamental mudarmos a maneira como estamos nos relacionando com a vida. O que acontece na sociedade é um reflexo do que está permeando os lares e, por conseguinte, o universo único e individual de cada ser em evolução. É urgente que plantemos a Era dos fenômenos morais para que os futuros estímulos nos meios sociais, tecnológicos e outros sejam para a realização da saúde e a felicidade possível de ser vivida.
Rudolf Steiner diz que “se a criança é capaz de se entregar por inteiro ao mundo ao seu redor em sua brincadeira, então em sua vida adulta será capaz de se dedicar com confiança e força a serviço do mundo”. Portanto, a mente absorvente da criança internalizará o seu mundo. Se os pais ou os cuidadores propiciam um ambiente preparado para o seu desenvolvimento físico e psíquico, então, ela se tornará um adulto com habilidades de transformações.