Como deve ser o ambiente terapêutico para crianças

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Quando se escolhe adentrar no universo da psicoterapia infantil são comuns questionamentos do tipo: quais instrumentos são necessários para se iniciar? Quais recursos são indispensáveis para a criança conseguir se expressar? Quais testes psicológicos são fundamentais? Em quais brinquedos se precisa investir para começar? Entretanto, pouco se pensa no ambiente terapêutico e, talvez, por este motivo há muitos consultórios de Psicologia Infantil que ora se parecem mais com uma loja de brinquedos ora com um quarto de criança.

Realmente o brincar é recurso primordial na prática da psicoterapia com crianças, pois é por meio desta técnica lúdica que a ela se expressa, isto é, expõe as emoções, sentimentos e pensamentos que estão permeando a sua intimidade. A partir destas observações, o psicólogo, através de conhecimentos técnicos e científicos, poderá desenvolver um trabalho de ressignificar os conflitos, potencializar habilidades e criar um trabalho também preventivo de saúde mental. É útil refletir, porém, a linha tênue entre utilizar o brinquedo como ludoterapia ou o seu uso como distração que não deve fazer parte deste momento precioso e profundo da vida da criança.

Atualmente, as novas gerações possuem estímulos o tempo todo em suas vidas e estes excessos de estimulações têm provocado um enorme déficit de concentração, quietude, foco que dificultam ainda mais o indivíduo a conseguir a consciência de si mesmo. As distrações têm virado uma epidemia da geração contemporânea. Por isso, faz-se imprescindível que o ambiente terapêutico seja pensado com mais atenção e cautela, para que ele possa auxiliar o pequenino que chega ao encontro do psicólogo neste espaço de autocuidado e autotransformação. É útil salientar que todas as ferramentas psicoterápicas são acessórios significativos no desenvolvimento da terapia, mas o verdadeiro material de trabalho é a criança. É ela quem deve estar em ênfase em todo o processo de psicoterapia infantil.

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Como deve ser, então, o ambiente terapêutico para crianças? Um local com poucas cores e que estas possam transmitir leveza e tranquilidade. Um espaço que contenha ao menos algum contato com a natureza, afinal, somos parte da natureza e ela possibilita diversas formas de reflexões, analogias e exemplos. Um recinto aconchegante e acolhedor que forneça aos pequenos segurança para estarem ali e se abrirem com o facilitador de emoções. E, logicamente, recursos lúdicos apropriados a cada necessidade e estágio da vida da criança. Segundo a minha forma de sentir a terapia com crianças, as ferramentas que mais permitem o sujeito a construir, elaborar, montar e sentir uma conexão maior com ele mesmo são as mais eficazes.

Certa vez, por exemplo, utilizei, com uma criança de 11 anos que tinha resistência à psicoterapia, o brigadeiro, seu doce preferido. Perguntei a ela se ela sabia a história da descoberta deste doce tipicamente brasileiro, ela disse que não sabia e eu respondi: “eu também não sei”. Rimos. Mas continuei: “mas a pessoa que inventou o brigadeiro teve que pensar em juntar o leite condensado e o chocolate, certo?” (mostrei a ele os ingredientes que estavam em minha mão). Ele respondeu: “sim”. Eu continuei: “imagine você, Cacau, se essa pessoa falasse: Ah! eu não vou misturar o leite condenado e o chocolate, eu vou estragar estes meus ingredientes e não poderei comer mais eles…” e prossegui: “iai, nós teríamos o brigadeiro que temos hoje se esta pessoa não tivesse feito uma nova versão do leite condensado e do chocolate?” e ele rapidamente me olhou surpreso e disse: “Não”. Então, o questionei: “E você, Cacau, quer fazer uma nova versão de você?” e ele retornou com  um sorriso no rosto: “sim”. O final foi saborear um delicioso brigadeiro e esta criança se tornou acessível nos encontros seguintes para continuar o trabalho íntimo consigo mesmo.

Portanto, mais do que buscar recursos e mais recursos para se trabalhar na clínica infantil, é necessário investir em um ambiente terapêutico que ajude a criança a transcender suas limitações e conectar-se consigo mesma por meio da sua própria natureza e simplicidade.

 

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