Como ajudei a família conversar com Keka sobre a morte do avô

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A morte é um fenômeno natural na vida de todo ser vivo, mas isso não significa que nossos corações a percebem de maneira tão natural assim. Geralmente, fugimos deste tema e, quando se trata em conversar com a criança, então, ficamos mais desconcertados ainda. Têm adultos que falam que vovô virou estrelinha, mamãe está lá no céu e a criança que ainda está desenvolvendo a parte do cérebro que nos permite compreender de maneira abstrata, fica mais confusa e angustiada. Afinal, elas compreendem no concreto e isto nada ajuda o seu pequenino, mas tão significativo coração.

Suzana, certo dia, chegou angustiada ao meu consultório. Em meio a pandemia do Covid19, sua família foi atingida com o susto e a dor da saudade de um ente querido: o avô de Keka. Ela era tão grudada com este avô que a mãe que estava com o coração dilacerado na vivência do luto do pai, ainda tinha a dor de como contar para a pequenina flor em desenvolvimento. Como contar? O que eu falo para ela? Devo falar? Eram as perguntas imediatas de Suzana.

Contei a ela a história de Pedrinho que aos 2 anos havia perdido a mãe de repente e o pai havia vindo ao meu consultório com as mesmas angústias de como ajudar o filho para que não desenvolvesse qualquer dificuldade emocional por esta experiência-desafio na vida deles. Pedrinho, dizia o pai, ficava rondando pela sala na procura pela mãe. Era claro que ele estava sentindo falta da mãezinha querida que cuidava dele com tanto amor e carinho.

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A criança até os 3 anos compreende, primeiramente, pela falta. Ela não entende o luto ainda como o adulto, mas fica na espera a qualquer momento do ente querido voltar e é, por isso, que sempre oriento aos pais conversar sim com a criança por meio de histórias. Temos hoje, por meio de tecnologia, várias histórias e vídeos que ajudam a criança a internalizar aos poucos a mensagem que os pais querem passar e ajudá-las a vivenciar a dor da saudade. Uma das histórias que ofereci à mãe de Keka se chama “O vovô não vai voltar?” da autora Carmem Beatriz Neufeld.

Ademais, é preciso evitar as analogias como o vovô está no céu. A criança poderá ficar na expectativa de todas as vezes que viajar, por exemplo, conseguir encontrar o avô. Ao invés de levar o diálogo com a criança por este viés, faz-se útil que os pais tragam para este momento os benefícios da religiosidade. Independente da religião, já temos claras evidências do quanto a Espiritualidade oferece ao indivíduo um fortalecimento e conforto para passar por inúmeras experiências desafiadoras na vida.

Foi, assim, que sugeri Suzana trazer à luz da religião da sua família para fortalecer o coraçãozinho de Keka, trazer a ela uma história que utilize o poder da oração para acender o nosso coraçãozinho e conectar com os entes queridos através do amor que sentimos por eles. Então, ensinei para Suzana explicar para a filha que todas as vezes que o coraçãozinho ficasse apertadinho e tristinho na saudade do vovô que ela orasse lembrando todos os momentos bons que eles viveram juntos, agradecendo a oportunidade de ter um avô tão especial como ele e mais ensine a criança a conversar pela oração: “Suzana, diga à Keka, por meio da história, que a oração é o telefone do amor!”, eu disse à mãe.

Além do mais, o choro é autorregulativo, isto é, nos ajuda a aliviar as angústia do coração e da alma. Permita que a criança chore e acolhe suas dores. É importante ela viver o luto tal como o adulto também necessita viver. A dor da saudade vai sendo amenizada com o tempo e o que ficará são as boas recordações de um tempo bem vivido.

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A morte nas nossas vidas também oferece um convite significativo e, nestes tempos, que ela se faz tão presente é preciso que escutemos os seus ensinamentos: como tenho vivido os meus dias? Como tenho me relacionado com aqueles que são especiais ao meu coração? Quais os valores que tenho desenvolvido e deixado como pegadas luminosas na vida de quem convive comigo para que a nossa vida não seja em vão, mas seja chama viva do convite do amor? Nunca é tarde para começar a plantar o jardim das virtudes no próprio coração e fazer da vida realmente uma grande escola de valores eternos.

Desta forma, promova na criança um espaço de escuta e acolhimento sem deixar de guiar teu coração para o desenvolvimento das virtudes da esperança, amor e resiliência. Ensine a criança a se conectar pelos laços do amor que nunca morrem em nossos corações, oferecendo a religiosidade no dia a dia para que os princípios sejam fontes vivas no seu desenvolvimento físico, cognitivo, psíquico e espiritual. Assim foi feito com Keka que aos poucos compreendeu a experiência e foi se acalmando paulatinamente, tal como Pedrinho que aos poucos compreendeu que sua mãe poderia estar presente pela porta voz da oração.

 

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